A REVOLUÇÃO RUSSA

A REVOLUÇÃO RUSSA

Desde o século XIX as teorias socialistas ganhavam força em diversas regiões do mundo. Surgiam como alternativa à sociedade capitalista industrial que então se consolidava, baseada no lucro e na exploração dos trabalhadores. Essa sociedade, segundo os socialistas, ampliava as diferenças entre as classes sociais: de um lado burgueses enriquecidos e de outro proletários miseráveis. Com as teorias de Karl Marx e Friedrich Engels, no século XIX, o socialismo ganhou uma proposta e um método para conquistar o poder. A partir de então, ele alimentaria a esperança de muitos que lutavam por uma sociedade mais igualitária, sem pobreza e com menores diferenças sociais. Na Europa, na América e em outros continentes, revoltas sociais passaram a ser estimuladas pelas teorias socialistas. Nesse sentido, a Revolução Russa, de 1917, foi a primeira a conquistar o poder.
A Revolução Russa de 1905 foi um movimento espontâneo, anti-governamental, que se espalhou por todo o Império Russo aparentemente sem liderança, direção, controle ou objetivos muito precisos. Geralmente é considerada como o marco inicial das mudanças sociais que culminaram com a Revolução de 1917.

Antecedentes
A Rússia as vésperas do movimento revolucionários de1917, apresentava particularidades políticas, econômicas e sociais que se tornaram fatores de sua própria destruição. A sociedade russa estava submetida a um Estado despótico, cujo o poder absoluto e arbitrário concentrava-se nas mãos do Czar, apoiado pela nobreza proprietária de terras e pela igreja Ortodoxa Russa. A economia de certa forma baseava-se na agricultura. A maior parte das terras pertencia ànobreza e à igreja; por tanto a maioria dos habitantes estavam estavam submetidos à aristocracia rural. Diante de uma industrialização tardia, diante da miséria e da fome, do analfabetismo e do desemprego, surge e ganha força na Rússia movimentos revolucionários baseados em teorias como o Anarquismo e o socialismo Marxista. Os movimentos fizeram surgir partidos dentre os quais se destacou o Partido Operário Social democrata Russo (POSDR), fundado em 1898. seus dirigentes, embora atuando no exílio, organizam várias formas de luta em todo o país. Em 1903, o POSDR se dividiu em duas tendências rivais: a dos Bolcheviques (em Russo, maioria), liderados por Vladimir Ilitch Ulianov - conhecido como Lênin- e a dos Mencheviques (em Russo, minoria). Ambas as correntes se inspiravam nas idéias revolucionárias de Karl Marx. Os antecedentes da Revolução Russa devem ser procurados na Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, e em seus desdobramentos: formação do proletariado, prática do “capitalismo selvagem” e evolução das idéias socialistas.

Economia, Política e Sociedade Russa antes da Revolução:
Já antes de 1905, o Império Russo passava por uma grave crise política. Desde a emancipação dos servos (1861), o país vivia uma rápida transição do feudalismo para o capitalismo. Os servos haviam sido libertos e passaram a ter o direito de comprar as terras onde trabalhavam. Entretanto, o ressarcimento devido aos seus senhores, como compensação dos direitos recém-adquiridos, levaram-nos, na prática, a permanecer na mesma situação de miséria.
A construção da Ferrovia Transiberiana e as mudanças econômicas levadas adiante por Sergei Witte atraíram o capital estrangeiro e estimularam uma rápida industrialização nas regiões de Moscou, São Petersburgo, Baku, bem como na Ucrânia, suscitando a formação de um operariado urbano e o crescimento da classe média. Essas classes eram favoráveis a reformas democráticas no sistema político. Entretanto, a nobreza feudal e o próprio czar procuraram manter o absolutismo russo e sua autocracia intactos a qualquer custo.
Finalmente, o desempenho desastroso das forças armadas russas na guerra russo-japonesa (1904 - 1905) intensificou essas contradições e precipitou os acontecimentos, sendo essa derrota considerada como causa imediata da Revolução de 1905

A Rússia no início do século XX
Ao iniciar-se o século XX, o Império Russo apresentava um extraordinário atraso em relação às demais potências européias:
Atraso econômico — A economia ainda era basicamente agrária, praticada em latifúndios explorados de forma antiquada, através do trabalho de milhões de camponeses miseráveis. A industrialização russa foi tardia, dependente de capitais estrangeiros e se restringia a algumas grandes cidades.
Atraso social — A sociedade russa era ainda mais desigual que a sociedade francesa às vésperas da Revolução de 1789. Havia o absoluto predomínio da aristocracia fundiária, diante de uma burguesia fraca e das massas camponesas marginalizadas. O proletariado russo era violentamente explorado; mas já possuía uma forte consciência social e política e estava concentrado nos grandes centros urbanos — o que facilitaria sua mobilização em caso de revolução.
Atraso político — O Império Russo era oficialmente uma autocracia (isto é, uma monarquia absoluta), com todos os poderes centralizados nas mãos do czar. Não havia partidos políticos legalizados, embora as agremiações clandestinas fossem bastante atuantes. Delas, a mais importante era o Partido Social-Democrata Russo, que em 1903 se dividiu em dois ramos: bolcheviques (marxistas radicais) e mencheviques (socialistas moderados).

No começo do século XX, um Russo descrevia assim as condições de vida dos operários:
“Não nos é possível ser instruídos porque não há escolas,
e desde a infância devemos trabalhar além de nossas forças por
um salário ínfimo. Quando desde os 9 anos somos obrigados a ir
para a fábrica, o que nos espera? Nós nos vendemos ao
capitalista por pedaço de pão preto; guardas nos agridem a socos
e cacetadas para nos habituar à dureza do trabalho; nós nos
alimentamos mal, nos sufocamos com a poeira e o ar viciado, até
dormimos no chão, atormentados pelos vermes...”
(Citado em: Rubim S. L. de Aquino e outros. História das sociedades.)


A Tentativa Revolucionária de 1905 e o Domingo Sangrento
Os problemas internos da Rússia se agravaram ainda mais após a Guerra Russo-Japonesa (1904-1905). A origem do conflito foi a disputa entre os dois países por territórios na China e por áreas de influencia no continente. A derrota ante os japoneses mergulhou a Rússia numa grave crise econômica e aumentou o descontentamento de diferentes grupos sociais com o Czar Nicolau II. Começaram a ocorrer greves e movimentos reivindicatórios, duramente reprimidos pela polícia czarista. Num domingo de janeiro de 1905, trabalhadores de São Petersburgo, então capital do Império Russo. No domingo do dia 22 de Janeiro de 1905 (9 de janeiro, segundo o calendário juliano, vigente no país, na época), foi organizada uma manifestação pacífica e em marcha lenta, liderada pelo padre ortodoxo e membro da Okhrana, Gregori Gapone, com destino ao Palácio de Inverno do czar Nicolau II, em São Petersburgo, com o objetivo de entregar uma petição, assinada por cerca de 135 mil trabalhadores, reivindicando direitos ao povo, como reforma agrária, tolerância religiosa, fim da censura e a presença de representantes do povo no governo. Segundo algumas fontes, durante a caminhada, eram cantadas músicas religiosas, e também a canção nacional “Deus Salve o Czar”.
Sergei Alexandrovitch, grão-duque, ordenou à guarda do czar que não permitisse que povo se aproximasse do palácio e que dispersasse a manifestação. Entretanto a massa não recuou. A guarda, então, disparou contra a multidão. A manifestação rapidamente se dispersou, deixando centenas de mortos.
A população indignou-se com a atitude do czar, que, até então, era bem visto por seus súditos. O episódio ficou conhecido como "Domingo Sangrento" e foi o estopim para o início do movimento revolucionário.


A Revolução de 1905
A Rússia entrou em guerra com o Japão, disputando territórios no Extremo Oriente, e foi derrotada Esse conflito repercutiu na Rússia Européia, dando origem à Revolução de 1905 — que Lenin mais tarde considerou um “ensaio geral para a Revolução de 1917”. A Revolução de 1905 consistiu em três episódios distintos, todos extremamente significativos:
O Domingo Sangrento — Uma manifestação pacífica de milhares de operários de São Petersburgo (então capital da Rússia) foi violentamente dispersada pela Guarda Imperial, com centenas de vítimas. Esse acontecimento abalou profundamente a confiança do povo em seu imperador.
A revolta do “Potemkin” — O “Potemkin” era um couraçado pertencente à frota russa do Mar Negro. Sua tripulação rebelou-se ao saber que seria enviada para lutar contra os japoneses. Os demais navios da esquadra não aderiram à revolta do “Potemkin”, cujos tripulantes acabaram refugiando-se na Romênia. De qualquer forma, tratava-se de um motim em uma grande unidade da Marinha Russa, evidenciando que as Forças Armadas já não podiam ser consideradas sustentáculos fiéis da Monarquia.
A greve geral — Em São Petersburgo, Moscou e Kiev, os operários entraram em greve geral. Apesar da repressão militar, os trabalhadores resistiram por algumas semanas, sobretudo em Moscou. Dois fatos importantes ocorreram durante essa greve: foram organizados os primeiros sovietes (conselhos) de trabalhadores e houve operários que se defenderam a bala, mostrando que estavam se preparando para uma insurreição armada. Em 1906, tendo em vista os abalos produzidos pela Revolução de 1905 e pela derrota frente ao Japão, o czar Nicolau ll resolveu criar a Duma, como um primeiro passo em direção à liberalização. Tratava-se de uma Assembléia Legislativa com poderes extremamente limitados; e, como era censitária, seus deputados representavam apenas 2% do total da população.

AS FASES DA REVOLUÇÃO:

1. FEVEREIRO DE 1917: A primeira fase da revolução aconteceu em fevereiro de 1917 pelas mãos dos Mencheviques. Porém vale lembrar que nesta fase não houve a intenção imediata de implantar o socialismo. Foi montado um governo provisório onde além dos mencheviques participaram o Kadet, partido burguês, e membros da nobreza russa. A idéia era primeiro desenvolver a Rússia para depois levá-la ao caminho do socialismo. A causa imediata da Revolução Russa foram os efeitos desastrosos do envolvimento russo na I Guerra Mundial. Na qualidade de membro da Tríplice Entente, juntamente com a Grã-Bretanha e a França, o Império Russo entrou em guerra com a Alemanha e a Áustria-Hungria em 1914. Mas, embora seu gigantesco exército tivesse o apelido de “rolo compressor”, os russos não estavam à altura de seus adversários alemães. Estes impuseram às tropas do czar derrotas esmagadoras, que só não levaram a Rússia à rendição porque a Alemanha, dividida entre duas frentes de batalha (havia uma Frente Ocidental, contra ingleses e franceses), não pôde explorar suas vitórias a fundo. Mesmo assim, boa parte do território russo encontrava-se em poder dos invasores — principalmente a Ucrânia, cujo tchernoziom (terra negra) era considerado o celeiro do Império.As pesadas perdas sofridas pelo exército, mais as dificuldades de abastecimento, somadas à alta do custo de vida e à ineficiência e corrupção administrativas, levaram o povo russo a uma situação de verdadeiro desespero. Assim, em fevereiro de 1917 (março, pelo calendário vigente nos países ocidentais), eclodiram manifestações em Petrogrado (novo nome de São Petersburgo), exigindo a saída da Rússia da guerra. As tropas da capital recusaram-se a reprimir os manifestantes e aderiram a eles. O czar Nicolau ll, que se encontrava em seu quartel-general, foi impedido de entrar em Petrogrado. Em questão de dias, a insurreição alastrou-se por todas as grandes cidades do Império. Como o príncipe-herdeiro era hemofílico, Nicolau ll preferiu abdicar em favor de seu irmão, mas este recusou o trono. Para que a Rússia não ficasse acéfala, a Duma organizou um governo provisório constituído de aristocratas e burgueses, sob a chefia do príncipe Lvov.Tentando ganhar o apoio das massas, o novo governo adotou uma postura liberal, decretando anistia política. Com isso, milhares de prisioneiros foram libertados e centenas de exilados retornaram à Rússia. Entre eles, inúmeros revolucionários bolcheviques, liderados por Lenin. Imediatamente começaram a ser organizados sovietes de operários, soldados e camponeses, com vistas à realização da revolução socialista.Recém-chegado do exílio, Lenin tentou um golpe de Estado em julho de 1917, mas falhou e foi obrigado a se esconder por algum tempo. O príncipe Lvov foi substituído na chefia do governo provisório por um advogado chamado Kerensky, do Partido Social-Revolucionário (apesar do nome, essa era uma agremiação política moderada), que gozava de uma certa popularidade. Mas esta se deteriorou rapidamente, devido à insistência de Kerensky em continuar a guerra contra a Alemanha, apesar dos anseios de paz da população e da impossibilidade de a Rússia poder sustentar um conflito militar de tais proporções.

2. OUTUBRO DE 1917: Em outubro de 1917 (novembro, pelo calendário ocidental), os bolcheviques finalmente tomaram o poder. Os sovietes, controlados por eles, haviam se transformado no poder de fato da Rússia, anulando o papel da Duma e de Kerensky. Um assalto ao palácio do governo, conduzido por soldados bolcheviques, resultou na fuga de Kerensky, que conseguiu se refugiar nos Estados Unidos. Algumas dezenas de jovens cadetes pereceram nas escadarias e salões do palácio, tentando defender seu líder que fugia.A Duma foi dissolvida e o poder foi assumido por um Conselho de Comissários do Povo, chefiado por Lenin. O novo governo convocou imediatamente uma Assembléia Constituinte.As eleições se realizaram em condições caóticas. Os bolcheviques dominavam Petrogrado, Moscou, Minsk e Kiev — ou seja, os grandes núcleos urbanos da Rússia Européia. Mas seu poder estava longe de ser estável nas vastidões do agonizante Império Russo. Assim, as eleições deram maioria aos partidos não-bolcheviques.A Assembléia Constituinte reuniu-se em Petrogrado em janeiro de 1918 — por um único dia. Comprovada a hostilidade da maioria dos deputados ao Conselho de Comissários do Povo, Lenin ordenou seu fechamento. Começava a ditadura comunista, com todos os seus desdobramentos: a paz com a Alemanha, a Guerra Civil entre Brancos e Vermelhos (1918-21), a socialização (freada temporariamente pela NEP — Nova Política Econômica), a luta pelo poder entre Trotsky e Stalin e, enfim, a ditadura stalinista (1928-53), uma das mais sangrentas de todo o século XX.
As primeiras medidas do governo revolucionário foram:
1. Retirada da Rússia da Guerra
2. Supressão das grandes propriedades rurais, confiadas agora à direção de comitês agrários;
3. Controle das fabricas pelos trabalhadores;
4. Criação do Exército Vermelho, com a finalidade de defender o socialismo contra inimigos internos e externos.
Logo depois os Bolcheviques adotaram os sistema de partido único: o Partido Comunista.

O SURGIMENTO DA URSS
Entre 1918 e 1921, os bolcheviques estabeleceram uma política econômica radical denominada Comunismo de Guerra. Durante esse período, foi estabelecida a regulamentação do consumo e da produção, a expropriação das grandes industrias e o confisco da maior parte das colheitas de cereais para alimentar o Exército Vermelho e os trabalhadores urbanos. Tais medidas produziram o colapso da economia russa, que regrediu a níveis inferiores aos de antes da Primeira Guerra Mundial. Ao mesmo tempo, para impor essa política impopular, os comunistas passaram a adotar medidas cada vez mais duras. Ao mesmo tempo, para aliviar as tensões resultantes dessas medidas, a partir de março de 1921 o governo adotou a Nova Política Econômica (NEP). Com ela foi suspenso o confisco das colheitas de cereais e abriu-se espaço para alguns empreendimentos de iniciativa particular que, em colaboração com as empresas estatais, deveriam promover o reerguimento econômico do país. Ao lado disso, o governo procurou atrair capitais estrangeiros, que foram canalizados para o desenvolvimento da industria de base, e retomou pouco a pouco o crescimento econômico. Na esfera política, fundou-se em dezembro de 1922 a União da Repúblicas Socialista Soviéticas (URSS).

Bolcheviques, Mencheviques, Dumas e Soviets
Tentando diminuir as tensões sociais, o czar criou a DUMA, espécie de parlamento. Contudo, os deputados eleitos das quatro primeiras dumas foram de tal maneira pressionados pelo czar que pouco puderamfazer. Em 1905, surgiram os Sovietes de trabalhadores, conselheiros que se encarregavam de coordenar o movimento operário nas fábricas.
O termo bolchevismo é de origem russa e significa, literalmente, maioria (em russo, bolscinstvó). Serviu para designar a corrente política e a linha organizacional idealizada e imposta pelo líder revolucionário Vladimir Lênin ao Partido Operário Social-Democrático da Rússia (POSDR). Fundado em 1898, o POSDR foi um partido revolucionário de orientação marxista, que conseguiu integrar aos seus quadros vários líderes operários pertencentes a associações e clubes de trabalhadores urbanos. A criação do POSDR está associada à significativa expansão da industrialização e das ondas de agitações operárias que atingiram a Rússia czarista no final do século 19. Líderes do POSDR esforçaram-se para convencer as demais correntes políticas revolucionárias atuantes na Rússia (social-democratas, populistas e marxistas, entre outras) de que o capitalismo industrial tinha atingido a fase que predispunha a classe operária a desempenhar o papel que lhe fora atribuído pela teoria marxista, de agentes revolucionários, cujo objetivo era a construção de uma nova ordem social: o socialismo.
No Congresso de 1903, realizado em Londres, as divergências entre as principais lideranças do POSDR aprofundaram-se, gerando uma cisão entre os social-democratas. Inicialmente, houve consenso entre os delegados presentes em torno do programa político geral e as finalidades do partido, que previa a revolução e a conquista do poder pelo proletariado.
No que se refere à organização e estrutura partidária, porém, surgiram divergências inconciliáveis entre dois líderes influentes: Lênin e Martov. Lênin defendeu uma fórmula bastante rígida de partido revolucionário, que em sua concepção deveria ser formado unicamente por militantes profissionais, ou seja, por membros que deveriam se dedicar exclusivamente ao trabalho partidário (em tempo integral).
Para Lênin, portanto, o partido deveria ser uma organização homogênea, altamente disciplinada e centralizada, que serviria como vanguarda (ou grupo dirigente) do movimento revolucionário. Por outro lado, Martov se opôs à fórmula leninista e defendeu que o partido revolucionário deveria estar aberto à integração de membros, que poderiam ser simpatizantes, colaboradores ou militantes. A proposta de Martov saiu-se vencedora, com 28 votos, contra 22 e uma abstenção.
Depois dessa votação ocorreu outra, que serviu para a formação do comitê de redação da publicação partidária "Iskra" e também para o comitê central do partido. Os Lêninistas venceram essa segunda votação formalizando a divisão das duas correntes social-democratas: os bolcheviques (maioria) e os mencheviques (minoria).
Os bolcheviques adotaram o modelo de organização partidária preconizada por Lênin. Do período que vai do Congresso de 1903 até a Revolução de Outubro de 1917, o Partido Bolchevique foi formado majoritariamente por intelectuais e pequeno-burgueses e atuou na clandestinidade.
Surgimento dos sovietes
Em 1905, a Rússia czarista foi abalada por várias insurreições de trabalhadores urbanos. O Estado czarista, porém, conseguiu resistir, mas o episódio entrou para a história como a revolução de 1905. A revolução abortada de 1905 rompeu no cenário político da Rússia a partir de um novo tipo de organização: os sovietes.
Os sovietes, também denominados "conselhos de trabalhadores", eram organizações formadas por delegados ou representantes de operários ou camponeses. Surgiram por iniciativa e criatividade dos próprios trabalhadores urbanos e rurais, que se organizaram autonomamente no núcleo fabril ou no âmbito da aldeia.
Bolcheviques e mencheviques não tiveram participação ativa na revolta de 1905, pois ela brotou da ação espontânea das massas populares. Na verdade, as duas correntes políticas se surpreenderam com a capacidade organizacional e a iniciativa dos trabalhadores.
O surgimento dos sovietes recolocou em discussão as teses dos bolcheviques (que não acreditavam na força e na capacidade de organização autônoma dos trabalhadores sem o auxílio de uma organização partidária de vanguarda) e dos mencheviques (que não acreditavam na possibilidade de luta política revolucionária devido ao atraso econômico da Rússia).
Em 1906, as duas correntes tentaram a reunificação, convocando um novo Congresso. No entanto, ambas as correntes suspenderam o processo de reunificação devido ao surgimento de novas divergências diante da abertura política efetivada pelo Estado czarista, com a legalização dos sindicatos trabalhistas.
Os mencheviques defendiam a atuação dentro da legalidade, participando das eleições para as instituições representativas. Os bolcheviques mantiveram a atuação clandestina e o programa de ação revolucionário.
Após a revolução abortada de 1905, o Estado czarista tentou em vão aplicar as reformas institucionais que possibilitariam a criação de novas instituições parlamentares. Essas instituições serviriam para a integração das classes populares e da pequena burguesia no sistema político russo.

Bolcheviques e o fim do aparelho czarista
O fracasso das reformas institucionais se deveu preponderantemente à resistência oferecida pela aristocracia czarista que dominava o Estado imperial russo. Nessa conjuntura, inúmeras revoltas e rebeliões sociais eclodiram pelo país, enquanto as lutas dos trabalhadores operários e camponeses se radicalizaram.
A Rússia pré-revolucionária presenciou uma sucessão de governos provisórios que agrupavam diversas e divergentes correntes políticas, como os liberais, os socialistas revolucionários e os mencheviques. A situação agravou-se ainda mais com o ingresso da Rússia na Primeira Guerra Mundial.
Os bolcheviques se apoiaram nos sovietes e puderam canalizar e dirigir a revolta das massas populares e o crescente descontentamento dos militares. Os bolcheviques saíram-se vitoriosos devido à dissolução do aparelho estatal czarista e a fraqueza das outras forças sociais e políticas que defendiam propostas reformistas.

Lênin, Stalin e Trotsky
A morte de Lenin trouxe uma ardente e violenta competição pelo poder entre diversos candidatos, dos quais se destacaram Trotsky e Stalin. O primeiro era o mais capaz intelectualmente e o mais conhecido líder bolchevique depois de Lenin. Era considerado quase um símbolo da revolução, pois havia organizado o ataque contra o palácio de inverno e comandara o Exército Vermelho durante a guerra civil. Vivera muitos anos no exílio, falava muitas línguas, era um orador inflamado e um brilhante analista político. No ocidente, quase todos os analistas e líderes políticos esclarecidos acreditavam que ele seria o sucessor natural de Lenin. Stalin era o inverso de seu oponente: figura apagada, desconhecida do público nacional e internacional. Passara sua vida adulta dentro do partido, trabalhando na burocracia partidária.
Quando Lenin morreu, Stalin para o cargo de primeiro-secretário do partido. Como esse posto controlava tudo, era ele o "homem forte" do país. Todas as nomeações importantes passavam por suas mãos e dependiam de sua aprovação.As divergências pessoais que surgiram entre os dois líderes estava ligadas a questões ideológicas, que não eram apenas o álibi nem o pretexto de ambições rivais. Elas possuíam alcance histórico e importância política para o movimento comunista internacional.
Trotsky tinha seus olhos voltados para o mundo do capitalismo desenvolvido. Espírito dotado de imaginação e visionário, acreditava numa revolução social permanente e universal. Achava que a revolução socialista só na Rússia, um país atrasado, era inevitável e que seu êxito dependia do surgimento de revoluções socialistas em outras partes do mundo.
Stalin, por sua vez, calculista e cauteloso, desprovido de solidariedade ao movimento socialista internacional, acreditava que o importante era construir o socialismo na Rússia. Os partidários de Stalin pensava que, mesmo em um país atrasado como a Rússia, era possível construir uma sociedade socialista. Para isso, era necessário deixar de apoiar movimentos revolucionários no exterior, a fim de não provocar os países imperialistas que poderiam invadir a Rússia.
Stalin, habilidoso e controlador da máquina partidária, valeu-se das divisões entre seus adversários. Em 1927, sua vitória estava garantida. Trotsky foi isolado, expulso do partido e dois anos mais tardes dedicou o país, indo radicar-se no México, onde influenciou pequenos partidos socialistas mundiais, igualmente opostos ao regime Stalinista. Mas Stalin, não suportando as críticas trotskistas, que o colocavam como renegado do marxismo e ameaçavam a política burocrática do governo soviético, mandou assassiná-lo, em 1940, na cidade do México.

A NEP e a reconstrução nacional
Depois de terem sufocado a rebelião dos marinheiros do Kronstadt, que clamavam pela derrubada dos bolcheviques e pela instauração da democracia proletária e da administração direta, os bolcheviques interpretaram corretamente a situação. Era impossível dar seguimento ao comunismo de guerra. Tornou-se necessário recuar em suas ambições de implantação imediata do comunismo. Voltar atrás não era uma medida fácil de ser tomada, e provavelmente, somente Lenin tinha condições morais e políticas para ordenar a retirada e não perder apoio dentro do partido.
Em 1921, foi criada a NEP (a Nova Política Econômica) que restabelecia as práticas capitalistas vigentes antes da Revolução. Os camponeses passariam a vender uma pequena parte da produção para o Estado a preço fixo, o restante podia ser lançado no mercado. Também permitiu-se o florescimeno de empreendimentos capitalistas na pequena indústria e no comércio. O estímulo pelo ganho pessoal foi reintroduzido e o igualitarismo teve que ceder passo à hierarquia e aos privilégios materiais.
O país passou a ter uma constituição produtiva anacrônica, medidas socialistas (estatização das empresas, minas, transportes e bancos), conviviam com medidas capitalistas (o médio produtor rural, o capitalismo urbano) e com a economia tradicional (economia de substência empregada pelos camponeses pobres). Permitindo no entanto a sobrevivência do regime dando-lhe folga necessária para a reordenação de forças. O próprio Lenin teve dificuldade m definir o estado de coisas, que ironicamente classificava: como "uma mistura de czarismo com práticas capitalistas besuntadas por um verniz soviético".
Os resultados práticos não demoraram a surtir efeito. Lentamente a produção agrícola foi sendo restabelecida; o sistema viário voltou a funcionar com maior regularidade e as pequena indústrias começaram a lançar seus produtos no mercado.

A Ditadura Stalinista
Em 1923, foi elaborada uma Constituição que instituía a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Josef Stálin venceu a disputa, tendo governado de 1924 a 1953. Em 1928, a NEP foi substituída pelos Planos Qüinqüenais Soviéticos, quando o governo passou a planejar a economia para os próximos cinco anos. O novo plano foi responsável pela industrialização e modernização do país Stálin foi responsável por haver substituído a ditadura do proletariado pela ditadura do Partido Comunista. Governando com mão de ferro e de maneira autoritária, foi responsável pela eliminação de milhares de pessoas, acusadas de serem contra o comunismo russo. Os falhos programas de industrialização e coletivização na década de 1930 e sua campanha de repressão política custaram a vida de milhões de pessoas. “Sob a liderança de Stalin, a União Soviética desempenhou um papel decisivo na derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e passou a atingir o estatuto de superpotência, e a expandir seu território, para um tamanho semelhante ao do Antigo Império Russo.”
O nome adotado pelo país, União das Republicas Socialistas Soviéticas, simbolizava teoricamente, que o Estado era federativo. As republicas que o compunham teriam autonomia e governo próprio, poderiam desenvolver duas línguas e culturas nacionais, tendo inclusive o direito de separar-se da União. Na prática, não era o que ocorria: o governo da União, com suas instituições superpostas às das repúblicas, centralizava todas as decisões em matéria de segurança militar e policial, relações exteriores, finanças, comunicações, industria pesada e bélica e outros setores essenciais. O Partido Comunista controlava todos os organismos governamentais da União e das repúblicas, prevenindo qualquer tentativa de autonomia excessiva e separação das repúblicas.
Em 1936, a União Soviética recebeu sua terceira Constituição revolucionária. Na forma e no conteúdo, tratava-se de uma Constituição extremamente democrática: todo poder emanava do povo, o que não ocorria na constituições anteriores, que não concediam direito de voto a determinadas classes e categorias sociais suspeitas aos olhos do novo regime.
Mas na verdade, não era isso que acontecia. A constituição, em seu famoso artigo 6°, dizia que o Partido Comunista tinha a hegemonia do Estado e da sociedade, cabendo a ele dirigi-los. O partido único era o motor e o verdadeiro detentor do sistema de poder soviético. Pouco numeroso em relação ao conjunto da população, era formado por elementos recomendados pela direção, disciplinados e obedientes, sempre sujeitos aos expurgos, caso não se enquadrassem no perfil exigido. Esses militantes gozavam do privilégio de residir em boas casas, receber bons salários e possuir prestígio social, entre outras regalias, como direito a clubes e colônias de férias exclusivas. Para não perder esses privilégios e sofrer sanções penais, demostravam lealdade total ao sistema. Isso impedia a inovação, a experimentação, a discussão aberta e a crítica construtiva. O que mais fazia para preservar suas carreiras era evitar responsabilidades, buscando a aprovação dos superiores em qualquer ação. Isso salvava a pele, mas não contribuía para o desenvolvimento de uma economia e sociedade complexas.
Na época de Stalin, o Partido Comunista tinha uma existência apenas formal. Exercendo o cargo de secretário-geral, Stalin possuía um poder que poucos homens tiveram na história.
Paralelamente, generalizava-se o trabalho forçado em campos de concentração. Nacionalidades descontentes, dissidentes, acusados de parasitismo, comunistas caídos em desgraça e tantos outros tipos, eram enviados para os campos de concentração. Estimativas modestas calculam em 5 milhões o número de presos e em meio milhão o de executados naquela época.
O terror político, com raros momentos de liberalização, foi tônica dominante. A polícia política era onipresente e a delação era estimulada e incentivada, tornando-se um meio de ascensão social. Mas não foi apenas através do terror que a burocracia stalinista assegurava o poder. Stalin possuía prestígio popular, em decorrência de resolução de alguns problemas econômicos e culto de algumas personalidades.
Chegou-se então ao cumulo do exagero: todas as casa e escolas da União Soviética exibiam em suas paredes a foto de Stalin todas as cidades e aldeias tinham a "Rua Stalin "; no cinema artistas altos e bonitos representavam papel de Stalin, que tinha pouco mais do que 1,60 metro de altura; a atual Volgogrado recebeu o nome de Stalingrado, "a Cidade de Stalin ".
Ele era o guia genial dos povos. Todos os partidos comunistas se inspiravam no modelo do partido russo. A Revolução Russa era o exemplo para todas as revoluções e Stalin, o modelo de dirigente político de todos os líderes comunistas.
Foi no entanto no final da Segunda Guerra Mundial que se deu o auge do culto da personalidade. Com a derrota do nazi-fascismo, o prestígio da URSS - vencedora - e dos partidos comunistas - elementos importantes na resistência contra os nazistas em vários países - cresceu no mundo inteiro e o de Stalin também. Afirmava-se que tinham sido suas concepções estratégicas geniais que haviam derrotado os nazistas e seus ensinamentos os responsáveis por qualquer melhoria na ciência e na produtividade soviética depois desse período.
O culto da personalidade chegou à falsificação grosseira da história. A Enciclopédia soviética rescreveu toda a história da Revolução de Outubro, engrandecendo o papel de Stalin e diminuindo o de seus adversários: uma foto de Trotsky, tomando o Palácio de Inverno, foi retocada e, em seu lugar, apareceu Stalin ao lado de Lenin tomando o poder.

Vídeo Revolução Russa - RESUMO

















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Escola Domingos Sávio
Cabo Frio (RJ)
3° Ano Ensino Médio
Turma: 3ooo
Professora: Kátia Ferreira
Disciplina: História
Alunos: Janaína Pinheiro, John Müller, Lorene Lima, Mayara Garcez, Nathália Mascitelli.































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